Smartify, a aplicação que reconhece obras de arte

Smartify promete ser o Shazam das obras de arte: funciona como um reconhecimento visual de obras de arte por meio de uma fotografia, proporcionando aos visitantes de museus mais informação sobre a pintura que observam. A aplicação não se limita a fornecer informação-base de obras de arte, permite ainda guardar informação, mais extensa que à partida o museu em questão fornece, e ainda como uma espécie de guia de galerias e museus parceiras do projecto.

Com lançamento marcado para Maio, a aplicação inicia-se com algumas obras do Louvre, em Paris, o Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, o Rijksmuseum em Amesterdão e a Wallace Collection em Londres.

Embora alguns museus tenham já as suas colecções digitalizadas e aplicações que fornecem informações extra sobre as obras da sua colecção, a Smartify procura ser uma forma de explorar espaços expositivos, desde galerias a museus, como uma visita virtual. Funciona, por isso, como uma alternativa à própria visita em determinadas instâncias: não é necessário estar perante uma obra de arte, basta fotografar, por exemplo, um postal, e a aplicação fornece-nos a informação relativa ao quadro.

A inserção de novas tecnologias no interior do museu foi sempre controversa. Há cerca de um ano atrás, uma fotografia no Reijksmuseum de crianças olhando para um tablet circulou pelas redes sociais sob a forma de escândalo. Os comentários acusaram a geração de ser distraída, desinteressada. Estavam dentro de um museu sem olhar para as obras de arte, antes a brincar num tablet – assim foi o consenso geral perante a fotografia.

9bd04ab74b8a1fa527dc5e627800c5f1

Mas o que a fotografia revelava era um grupo de estudantes a resolver uma série de questões sobre as obras no museu. O que faziam com os seus smartphones e tablets era pesquisa. Não é de todo estranho que os museus integrem novas tecnologias. O Museu do Azulejo, por exemplo, tem uma aplicação para telemóveis que funciona como uma visita guiada a todo o museu, completa não só com informação sobre o edifício além da sua colecção como guia para surdos.

A utilização de smartphones dentro do museu nem sempre é bem vista, e não sem fundamento. Não só no passado mês de Novembro, em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Antiga, um turista quebrou uma estátua enquanto tirava uma selfie, como mais recentemente uma das famosas abóboras de Yayoi Kusama, a menos de uma semana depois da abertura de Infinity Rooms, sofreu danos igualmente por causa de uma selfie. É, portanto, evidente que existe em determinadas situações uma falta de senso comum da parte do visitante relativamente ao modo como se comportar no museu e como utilizar o smartphone. Mas será suficiente para eliminar a sua presença do museu?

Instituições que procuram métodos de inserir as novas tecnologias no museu fazem-no não só como modo de difundir a informação pelos seus visitantes e possíveis visitantes como também criar outros métodos de acessibilidade. Não surge com admiração o facto de algumas vozes se terem levantado contra a aplicação. Kevin Walker, curador do Royal College of Art de Londres, afirma que os visitantes devem confiar nos curadores no que toca visualizar obras de arte, pois eles são “os peritos com experiência”.

Talvez a utilização de uma aplicação de smartphone que informe o visitante acerca da obra que olha – e a falta de informação acerca de algumas obras é, de facto, uma falha em alguns museus – faça este mesmo olhar com mais atenção essa mesma obra. Tal como os jovens da fotografia do Rijksmuseum olham para os smartphones para fazerem pesquisa sobre as obras que os rodeiam, Smartify vai permitir isso mesmo de uma forma que pode ainda vir a difundir essa mesma informação por um público mais alargado.

Vale também a pena referir que a aplicação, que propõe a opção de ser utilizada em anónimo, permite, caso contrário, enviar a informação sobre o visitante ao museu para fins estatísticos. Talvez esta troca informativa entre aplicação-público-instituição seja o ponto mais importante de toda esta experiência: não só é permitido ao visitante aprender mais sobre a obra – e seleccionada, pois a aplicação recorrerá à informação informatizada do próprio museu, e que este cede – como o museu pode, deste modo, aprender mais sobre o seu público.

Smartify promete, deste modo, ser uma ferramenta de aprendizagem tanto para o público como para o próprio museu.

Deixe um comentário